sexta-feira, 26 de março de 2010

26 DE MARÇO: A BATALHA DE NUÑEZ

Foi uma verdadeira assombração, numa madrugada de sexta-feira da paixão. Brasil e Uruguai se enfrentavam, no estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires, pelo Campeonato Sul-Americano. Depois da vitória uruguaia, por 2 x 1, na final da Copa do Mundo de 1950, no Maracanã, as duas seleções só haviam se cruzado no Pan-Americano de 52, no Chile, quando os brasileiros mandaram 4 x 2.
O segundo jogo pós-Maracanazo – com os uruguaios chamaram a final do Mundial de 50 – havia começado na noite da quinta-feira santa. Perto do final do primeiro tempo, o atacante brasileiro Almir ”Pernambuquinho” Albuquerque estranhou-se com o zagueiro uruguaio Davoine, e o pau quebrou entre celestes e canarinhos. Ao final das escaramuças, o goleiro Castilho, (Fluminense) estava com os supercílios cortados; o quarto-zagueiro vascaíno Orlando Peçanha de Carvalho com os lábios abertos; o zagueiro central Bellini (Vasco), o goleiro Gilmar (Corinthians), o meia-armador Didi (Botafogo) e os atacantes Almir (Vasco) e Pelé (Santos) com escoriações generalizadas. Pelo lado uruguaio, o capitão e zagueiro William Martinez perdera um dente e levara três pontos na cabeça; o atacante Sasía apresentava seu olho esquerdo sangrando e Roque Fernandez com os ombros feridos.
A pancadaria durou 50 minutos, ao final da qual o árbitro chileno Carlos Robles expulsou de campo só os brigões Almir, Orlando, Davoine e Gonçalves. Ouvido pelo número 512, da revista Placar, de 22 de fevereiro de 1980, o capitão uruguaio, William Martinez, de 1,82 m de altura e pesando, na época, 82 kg, contou que só brigou “porque Bellini agredira (o reserva) Alvarez. O capitão uruguaio ainda acusou o massagista Mário Américo de derrubá-lo e Pelé de chutá-lo na cabeça. Na mesma reportagem de Placar, Mário Américo dá a sua versão, dizendo que Martinez tentou lhe acertar um soco, não conseguido porque ele fora boxeador, se esquivara e conseguira lhe aplicar uma gravata (golpe pelo pescoço), derrubando-o e caindo junto com ele, que foi chutado por Coronel, Bellini e Pelé.
De sua parte, Bellini, afirmou à revista que ouvira o massagista uruguaio gritando para William Martinez arrumar uma briga e que o grandalhão ameaçou quebrar-lhe a cara, no momento em que era derrubado por Mário Américo. Também acusou Sasía de jogar-lhe areia nos olhos e lhe dar um pontapé, por trás, depois do final da partida. Nesse ponto, contou o zagueiro, acertou um murro na boca do uruguaio, que ainda levou uma tesoura-voadora (pulo em horizontal no ar e pancada com os dois pés no adversário) desferida por Didi e mais uma pancada do preparador físico Paulo Amaral.
Bellini ainda acusou Davoine de distribuir pontapés e fez um relato satírico sobre o conflito. Segundo ele, ao ver Garrincha pardo, com os braços cruzados, o indagou se ele, também, não iria entrar na briga, e ouviu a resposta: “Ah! Ninguém veio me bater”.
Em seu livro, “Eu e o Futebol”, Almir fala dessa briga e diz que após disputar um lance, pelo alto, com o goleiro uruguaio Leiva, ele levou um pontapé, na bunda, desferido por William Martinez, e mais um chute de Davoine. O seu relato acrescenta que Pelé tentou defendê-lo e foi empurrado. Então, Orlando agrediu Davoine. Em seguida, ele partiu pra cima de Martinez, aos pontapés, enquanto Didi batia na cara do inimigo e Chinesinho corria de um uruguaio, pela lateral do campo.
Quanto ao jogo, o Brasil venceu, por 3 x 1, de virada, com três gols do botafoguense Paulo Valentim, aos 17, 35 e 44 minutos do segundo tempo – Escalada havia aberto o placar, para os uruguaios, aos 42, da primeira etapa. Naquela noite, a Seleção Brasileira entrara em campo com um ponto perdido, no empate com os peruanos, enquanto os uruguaios haviam perdido dois, numa derrota para o mesmo adversário. A Argentina, que vencera todas, liderava. Assim, entre Brasil e Uruguai, quem perdesse, dificilmente, teria chances de título.
Na seqüência do torneio, o Brasil ainda mandou 4 x 1 pra cima dos paraguaios e foi prejudicdo na decisão, contra os argentinos, no jogo que ficou no 1 x 1 e deixou os anfitriões com um ponto a mais, porque o chileno Carlos Robles encerrou a partida quando Garrincha passou pelo goleiro, chutou e a bola ia entrando. Mas este é um choro que fica para o folclore do futebol.
O time brasileiro da “Batalha de Nuñez” foi: Castilho (Gilmar); Djalma Santos, Bellini, Orlando e Coronel (Paulinho Valentim); Formiga e Didi; Garrincha, Almir, Pelé e Chinesinho. O uruguaio foi: Leiva; Davoine, William Martinez, Silveira e Gonçalves; Messias e Borges (Roque Fernandez); Demarco, Douksas, Sasía e Escalada (Aguilera).

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